segunda-feira, 12 de maio de 2008

Quando a vida atropela

Entra apressada, não olha para os lados. Está envergonhada, assustada, tensa. Na recepção é recebida por uma senhora sorridente e se acalma. Ela tem 15 anos e está grávida pela segunda vez.
“Não posso ter esse bebê! Minha mãe me mata!”- repete Mariana*. A recepcionista lhe serve um copo com água, e pede que ela aguarde.
Mariana é uma das 7 milhões de mulheres que sofrem com gravidez inesperada no Brasil. Desse número, mais de 4 milhões recorrem ao aborto. As conseqüências são desastrosas: infecções são as principais causas de morte das mães. “As clinicas de aborto são todas clandestinas, já que no Brasil essa prática é proibida”, diz Ana Carolina Nunes, diretora regional do Cervi – Centro de Reestruturação para a Vida. A ONG é a única instituição da América Latina a dar assistência de todo o tipo para mulheres surpreendidas por uma gravidez inesperada. “Aqui elas encontram conforto. Além de assistência psicológica, que é o que elas mais precisam, ajudamos com recursos materiais e serviços médicos essenciais”, completa Ana.
“O grande problema que nós enfrentamos é que as mulheres que nos procuram já chegam com a idéia de abortar. Demovê-las dessa idéia é uma missão que demanda tempo e habilidade”, conta Maria do Carmo Barcelli, psicóloga voluntária da ONG há 4 anos.
O Cervi é uma extensão do projeto Life International, com sede nos Estados Unidos e atuação em mais de 15 países em desenvolvimento e com altos índices de abortos. Além de atender a mulheres com gravidez inesperada, a instituição cuida daquelas que sofrem com o trauma do pós-aborto. Segundo Ana Carolina, ninguém no Cervi discrimina qualquer uma delas. “Atendemos de forma humana e tentamos aumentar a auto-estima da mulher, sempre valorizando a vida, já que há alguns casos de pós-aborto em que as mulheres pensam em suicídio”.
Após 8 sessões de atendimento psicológico, 2 visitas da assistente social à sua casa, muito carinho e grande aumento de sua auto-estima e confiança, Mariana resolveu dar uma chance à vida que carrega em seu ventre. Hoje, aos 6 meses de gestação ela diz: “O Cervi foi uma luz. Eu estava precisando - ainda estou- e quando converso fico bem melhor. Quando vi como funciona e o que eles poderiam fazer por mim fiquei mais tranqüila. Deus me levou para um caminho. Se Ele não fez de outra forma, Ele fez me levando até o Cervi".
*O nome foi alterado para garantir a integridade da entrevistada

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